Embarque de italianos para o Brasil, 1910 (Acervo do Museu da Imigração do Estado de São Paulo).

Emigração italiana

A Unificação da Itália foi um dos principais fatores para que uma grande leva de italianos aportasse nas Américas do Norte e do Sul. Com o fim do feudalismo, os camponeses, que agora podiam abandonar o campo, não encontravam trabalho nas cidades, já repletas de artesãos desempregados pela explosão demográfica. A revolução industrial estava substituindo a mão de obra humana pelas máquinas que produziam mais e melhor. Por não encontrarem ocupação nas cidades, tinham apenas uma saída: a emigração.

No Brasil, houve estímulo à imigração e à organização da colonização durante todo o século XIX. A partir de 1824 até meados da década de 1850, expandiu-se a imigração alemã, sobretudo no Rio Grande do Sul, sob a direção do Governo Provincial. A partir da década de 1870 houve o incremento da colonização italiana, dirigida pelo Governo Imperial.

Antecedentes

No século VII a.C., os gregos ocuparam a costa da península italiana e fundaram um conjunto de colônias, que logo prosperaram e receberam o nome de Magna Grécia. Os gregos designaram a ponta da península – a atual Calábria – com o nome de Itália. Roma acabaria por dominar e unificar toda a região. O nome Itália passou a designar toda a península, do sul ao norte. Na época romana, cada Estado ligava-se a Roma separadamente, não existindo entre eles nenhuma associação. A República Romana durou 500 anos.

Nos séculos seguintes, o Império Romano, caracterizado por uma forma autocrática de governo e de grandes propriedades territoriais na Europa e em torno do Mediterrâneo, se desenvolveu a partir da Península Itálica. A história marca o início do Império em 16 de janeiro do ano 27 a.C., quando Otaviano recebeu do senado o título honorífico de Augusto.

Com a dissolução do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C., a Itália foi dividida em várias unidades políticas (regiões) independentes entre si, mas todas submetidas ao regime feudal durante muitos séculos. Na Idade Média, todas as atividades e contatos humanos ficavam limitados aos feudos – pequenas unidades territoriais – aos quais pertenciam os habitantes.

A Sereníssima República de Veneza (em vêneto: Serenìsima Repùblica Vèneta; em italiano: Serenissima Repubblica di Venezia) foi um Estado no nordeste da Itália, com capital na cidade de Veneza. Existiu do século IX ao século XVIII (1797). Não há um consenso quanto à data da fundação da república. São consideradas as seguintes datas:

697 – quando os venezianos elegeram o primeiro chefe (dux, depois Doge) autonomamente do Império Bizantino.

810 – quando o ducado, já quase independente, muda sua capital de Eraclea para Veneza.

A data do fim, ao contrário, é clara: 1797, ano em que a Sereníssima República foi invadida por Napoleão Bonaparte. Com o Tratado de Campoformio, seu território foi cedido ao Império Austríaco. De 1804 a 1815, Napoleão Bonaparte criou diversos estados independentes na Península Itálica: o Reino da Etrúria, o Reino da Itália, o Reino de Nápoles.

Em 9 de junho de 1815, após  o fim do Império Napoleônico com a derrota francesa na batalha de Waterloo, o Congresso de Viena defendeu a partilha da Europa entre Áustria, Rússia, Inglaterra e Prússia. As regiões da Península Itálica passaram a ser dominadas pelos austríacos e franceses e pela Igreja Católica. Francisco I da Áustria tornou-se Francisco I rei da Lombardia e do Vêneto. Reinou no período 1815-1835 e lhe sucedeu Fernando I da Áustria, que reinou de 1835 a 1848. Depois da Revolução de 1848, foi obrigado a abdicar para o seu sobrinho Francisco José.

Guerras para a unificação

Entre 1848 e 1866 os exércitos do Reino da Sardenha e do Império Austríaco combateram três guerras que, com êxitos alternados, levaram à libertação da maior parte do Norte da Península Itálica do domínio austríaco. Somente após a Terceira Guerra da Independência, em 1866, o Reino da Itália adquiriu o controle sobre o Vêneto. Síntese:

1848-1849: Primeira Guerra de Independência Italiana. Terminou com a vitória austríaca sobre o exército sardo-piemontês.

1859: Segunda Guerra de Independência Italiana ou Guerra Franco-Austríaca. O Reino da Sardenha se aliou à França e terminou com a derrota da Áustria e a formação do núcleo que originaria o Reino da Itália.

1866: Terceira Guerra de Independência Italiana (também chamada de Guerra das Sete Semanas, Guerra Austro-prussiana ou Guerra Civil Alemã). O Reino da Itália aliou-se à Prússia contra a Áustria. Graças à vitória do exército prussiano, o Reino da Itália adquiriu o controle sobre o Vêneto.

Condições econômicas na Itália

O contexto socioeconômico ítalo-brasileiro na segunda metade do século XIX foi o fator preponderante entre as causas da emigração/imigração.

O fim do império napoleônico, em 1815, com a derrota de Napoleão na batalha de Waterloo, em nada mudou as péssimas condições que a Península Itálica passava tanto nas cidades como no campo.

No campo reinava o minifúndio. Pela contínua exploração, as terras tornaram-se pouco produtivas. Subsistia ainda a estrutura de trabalho baseada no regime feudal. Os camponeses abandonavam os campos, mas não encontravam emprego nas cidades. A indústria manufatureira havia criado novas profissões, para as quais os camponeses não tinham habilitação.

Nas cidades a situação não era diferente. A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra no século XVIII, provocou profundas alterações na estrutura socioeconômica. A industrialização trouxe efeitos negativos aos artesãos. No momento em que uma única máquina passou a produzir o que várias dezenas de pessoas faziam, a competição levou-os à ruína. Os artesãos passaram, assim, à condição de simples operários, obrigados a trabalhar muitas horas por dia por salário aviltante. Não havia empregos para ocupar tanta gente. O mercado de trabalho não se ampliava na mesma proporção do crescimento populacional.

A Unificação Italiana, desejada pela alta burguesia, tinha por objetivo a formação de um mercado nacional e a ampliação de novas relações capitalistas. Essas medidas geraram uma crise na indústria artesanal e na pequena propriedade rural. O desenvolvimento industrial urbano, incentivado pelo Estado, sobretudo nas regiões do Norte, não tinha condições de absorver a mão de obra rural. Os campesinos do Norte da Itália formariam as primeiras grandes levas de emigrantes. Nas áreas meridionais, as novas relações capitalistas limitaram-se ao controle do mercado, consolidando uma economia precária que também conduziu à emigração.

Na década de 1860, antes de concluída a unificação italiana, vários fatores, como a supressão das alfândegas regionais, a oferta de produtos industriais a preços reduzidos e o desenvolvimento das comunicações, contribuíram para a destruição da produção artesanal.

O governo italiano passou a tomar medidas impopulares, como a criação de altos impostos, pois estava preocupado em obter recursos para a realização de obras públicas. Pequenos proprietários vendiam seu pedacinho de terra e poucos conseguiam trabalho junto aos novos proprietários.

A substituição havida na classe proprietária com advento da figura do arrendatário capitalista instaurou um regime de exploração inédito. Os arrendatários ocuparam, aos poucos, o lugar dos antigos proprietários aristocratas e clericais, que tinham uma relação mais paternalista com os camponeses.

Era predominante a grande propriedade nas regiões meridionais, centrais e nas planícies setentrionais. Estas terras eram cultivadas por trabalhadores rurais despossuídos – chamados braccianti – que podiam ser fixos ou volantes, conforme as necessidades sazonais das lavouras.

O Norte da Itália foi o primeiro a ser atingido. Ali começou a se desenvolver a industrialização, deixando os agricultores, que complementavam sua renda com o trabalho artesanal, sem emprego e sem mercado para seus produtos. Ali teve origem o  movimento emigratório, intensificado nos anos de 1876 a 1880. A região de procedência do maior número de emigrantes foi o Vêneto, seguindo-se as regiões da Campânia, da Calábria e da Sicília, depois da Lombardia, Piemonte e Friuli.

A emigração de classes rurais para os países das duas Américas era a única saída em face ao desemprego e à miséria. Além disso, as colônias agrícolas existentes no Brasil eram o grande atrativo para os italianos famintos, sem emprego, sem lar. A imprensa italiana divulgava o protocolo regulamentando a emigração para o Brasil. A propaganda da feracidade de suas terras se alastrou em meio aos contadini: “PARTIRE SUBITO PER L’AMERICA, PER BRASILE A FAR FORTUNA!” foi o slogan que sacudiu os camponeses, notadamente da Lombardia e do Vêneto, as províncias mais populosas e afetadas pela falta de trabalho e de terra.

Propaganda da emigração
Propaganda da emigração.

… Na América.

Terras no Brasil para os italianos. / Navios partindo toda a semana do porto de Gênova. /  Venham construir seus sonhos com a família. / Um país de oportunidades. Clima tropical e abundância. Riquezas minerais. No Brasil vocês podem ter o seu castelo. O governo dá terras e ferramentas para todos.

A Igreja também incentivava seus fiéis a conhecerem a nova terra, o paraíso. Num dos cartazes afixados no Porto de Gênova, o desenho sugere que a comida caía do céu. Prometia abundância de terras no Brasil, assim como transporte gratuito, hospedagem, assistência médica, instrumentos de trabalho, sementes, instrução para as crianças e crédito para comprar as terras durante os primeiros tempos. Enfim, a promessa de recuperação da condição camponesa, entendida como a formação de uma comunidade de pequenos proprietários que praticam um processo de trabalho familiar.

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