VENETO [De Agostini, Giovanni; Nicouline, Vesevolod Petrovic 1890-1962]
David Rumsey Map Collection.

Raízes

A família é um conjunto de pessoas ligadas por vínculo sanguíneo e descendentes de um tronco ancestral comum. Orientados por esse conceito amplo, podemos recuar cada vez mais na busca de ancestrais de Angelo Dametto. Seus pais, Giosuè e Giovanna, também vieram ao Brasil e, alguns anos depois, voltaram à Itália. Mas, onde procurar informações sobre eles?

O site Emigrazione Veneta, da Associação “Hospedaria-Emigrazione Veneta in Brasile”, traz os nomes de milhares de pessoas que emigraram do Vêneto ao Brasil na segunda metade do século XIX até os primeiros anos do século XX. Dele recortamos uma lista de 13 emigrantes com o sobrenome Dametto, todos vindos de Treviso. Não há registro das datas de saída da Itália e de chegada a seus destinos, mas hoje sabemos que o casal Giosuè Dametto e Giovanna Martini, o filho casado Angelo e duas filhas chegaram ao porto de Rio Grande – RS entre o fim de 1882 e início do ano seguinte.

  1. Angelo Dametto, nascido em 19-12-1853, filho de Giosuè Dametto e Giovanna e Martini, casado com Luigia [Angela] Robazza, nascida em 11-05-1879;
  2. Caterina Dametto, nascida em 20-08-1827, filha de Antonio Dametto e Giovanna Scandiuzzi, viúva de Luigi Bortoli;
  3. Erminia Dametto, nascida em 09-07-1888, filha de Ferdinando Dametto e Lucia Parisotto;
  4. Ferdinando Dametto, nascido em 21-06-1881, filho de Angelo Dametto e Luigia Robazza;
  5. Ferdinando Dametto, nascido em 03-05-1862, filho de Giovanni Dametto e Lucia Stocco, casado com Lucia Parisotto;
  6. Giosuè Dametto, nascido em 04-04-1826, filho de Angelo Dametto e …, casado com Giovanna Martini em 22-02-1847;
  7. Giovanni Battista Dametto, nascido em 02-07-1890, filho de Ferdinando Dametto e Lucia Parisotto;
  8. Giuseppe Dametto, nascido em 10-07-1887, filho de Luigi Dametto e Maria Zanotto;
  9. Giuseppe Dametto, nascido em 1868, filho de Francesco Dametto e Luigia Pellizer;
  10. Maria Dametto, nascida em 04-06-1871, filha de Giovanni Dametto e Lucia Stocco, casada com Giovanni Chiorato em 13-11-1892;
  11. Maria Dametto, nascida em 06-07-1857, filha de Giosuè Dametto e Giovanna Martini;
  12. Maria Antonia Dametto, nascida em 16-11-1886, filha de Ferdinando Dametto e Lucia Parisotto;
  13. Orsola Dametto, nascida em 06-07-1861, filha de Giosuè Dametto e Giovanna Martini.
  14. Pietro Dametto, nascido em 01-03-1872, filho de Gio Batta Dametto e Maria Vinante, chegou em São Paulo em 14-11-1887 (cf. primeiro registro dos imigrantes entrados em São Paulo).

Abrindo a lista temos os nomes de Angelo Dametto e cônjuge Luigia [Angela] Robazza. Traziam consigo o filho primogênito Ferdinando Dametto (quarto na lista). Constam nessa lista também os nomes dos pais de Angelo – Giosuè Dametto, cônjuge: Giovanna Martini – e de duas irmãs dele – Maria e Orsola Dametto.

No Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, encontrei o registro da chegada a Porto Alegre, entre 9 a 16 de janeiro de 1884, da família de Isidoro Dametto  (51 anos) e Maria Dametto (31 anos), com os filhos: Angela (8 anos), Domenico (7 anos), Valentino (5 anos), Augusta (4 anos), Maria Tereza (2 anos e meio) e Abelardo (4 meses).

A busca no acervo digital dos livros de “Matricula dos Immigrantes entrados no Alojamento provincial de Immigração em São Paulo” apresentou o levantamento de nomes e sobrenomes Dametto, com membros das respectivas famílias, todos registrados nos livros da imigração:

  1. Gio Batta Dametto (agricultor, 47 anos) chegou no dia 14/11/1887 (com a esposa Maria Teresa Vinante e os filhos Pietro e Giuseppe) – livro 007, pág. 089;
  2. Francesco Dametto (agricultor, 40 anos) chegou no 30/11/1887 – livro 007, pág. 123;
  3. Tommaso Dametto (agricultor, 67 anos) chegou no dia 30/11/1887 – livro 007, pág. 123;
  4. Giuseppe Dametto (agricultor, 19 anos) chegou no dia 24/12/1887 – livro 007, pág. 158;
  5. Francesco Dametto (agricultor, 60 anos) chegou no dia 24/12/1887 – livro 007, pág. 270;
  6. Giuseppe Dametto (agricultor, 21 anos) chegou no dia 04/01/1888 – livro 007, pág. 289;
  7. Antonio Dametto (agricultor, 61 anos) chegou no dia 27/01/1888 – livro 008, pág. 069;
  8. Lorenzo Dametto (agricultor, 40 anos) chegou no dia 08/03/1888 – livro 009, pág. 115;
  9. Irmãos Calixto Dametto (42 anos) e Pasquale Dametto (24 anos), lavradores, chegaram no dia 12/01/1891– livro 023, pág. 164;
  10. Zenone Dametto (23 anos) chegou no dia 07/02/1891 – livro 023, pág. 268;
  11. Adamo Dametto (32 anos) chegou no dia 06/03/1893 – livro 037, pág. 236;
  12. Joaquim Dametto (agricultor, 20 anos) chegou no dia 10/12/1909 – livro 038, pág. 108;
  13. Tomaso Dametto (75 anos) chegou no dia 18/12/1895 – livro 051, pág. 578;
  14. Antonio Dametto (agricultor, 25 anos) chegou no dia 06/11/1925 – livro 098, pág. 174.

Na listagem, constam duas mulheres: Giuseppina Dametto (sem idade definida) chegou no dia 23/12/1887 – livro 007, pág. 232; Angela Dametto (39 anos) chegou no dia 23/12/1887 – livro 083, pág. 051.

Estes registros são apenas o início das árvores genealógicas e histórias a serem elaboradas pelos descendentes de Gio Batta, Francesco, Tommaso e outros, que são certamente os ancestrais de inúmeras famílias Dametto residentes no Estado de São Paulo e espalhadas por outros estados. O grupo Família Dametto, criado no Facebook por Fábio Dametto, já tem mais de  450 membros, muitos deles não descendentes de Angelo e Luigia Angela Dametto. Essa página do Facebook é um grande auxílio aos interessados em coletar nomes e informações necessárias para o levantamento das árvores genealógicas de famílias não descendentes de Angelo e Luigia Angela Dametto.

Para obter o nome do navio e a data de chegada da família completa de meu bisavô Angelo, viajei a Porto Alegre e fui pesquisar no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, onde fica o Memorial dos Imigrantes. Consultei vários códices de entradas de imigrantes, mas não encontrei os nomes que procurava. Na cidade de Rio Grande a Biblioteca Riograndense guarda coleções de jornais que registram os nomes de passageiros de navios desembarcados no porto de Rio Grande a partir de 1860, mas os jornais trazem apenas o número de imigrantes em cada viagem.

Antonieta Dametto, neta de Ferdinando, entregou-me cópias de documentos com informações importantes sobre nossos ancestrais: certidões de nascimento de Angelo e Luigia Angela e de seu casamento, ata de nascimento e batismo, manuscrita, e transcrição da certidão de nascimento de Ferdinando Dametto.

Certidão de casamento de Angelo Dametto e Luigia Angela Robazza.
Certidão de casamento de Angelo Dametto e Luigia Angela Robazza.
Registro de nascimento de Ferdinando Dametto.
Registro de nascimento dos gêmeos Ferdinando e Luigi Dametto.

A ata de batismo de Ferdinando traz a data e hora do nascimento: “ieri, alle 12 ½ di notte”, ontem, às 12 e meia da noite, com a presença da parteira, a levatrice approvata senhora Antonia Cagnato, de Riese. Foi batizado no dia 22 de junho de 1881. Na sétima linha, temos o nome de Luigi Dametto, irmão gêmeo de Ferdinando, nascido morto às 4 e meia. Segue a informação de que estava presente a levatrice acima mencionada, que “gli diede l’acqua sub prima che perfettamente fosse nato”. Traduzindo: que “lhe ministrou a água antes que perfeitamente fosse nascido”.

Eis, então, o registro de um momento crucial e heroico na vida de Luigia Angela. Sua primeira gravidez foi de gêmeos, seu primeiro parto foi difícil, longo e, com certeza, com grande sofrimento. Difícil é imaginar como terá sido a sua preparação para a longa viagem de navio que, alguns meses depois, ela iria empreender com a família para chegar ao Brasil.

A consulta dos registros de batismo conservados nas igrejas paroquiais italianas mostra que era comum a presença da levatrice aprovatta, uma mulher instruída em escola de obstetrícia, que substituía o médico e acompanhava a parturiente. Ela podia também administrar o batismo no lugar do sacerdote quando havia iminente perigo de morte. O caso de Luigi Dametto nos mostra como eram frequentes as mortes no parto e a necessidade de batizar os recém nascidos o mais rápido possível, como Ferdinando, batizado no dia seguinte ao dia do nascimento.

As mulheres italianas vindas ao Brasil, suas filhas e noras passaram pela mesma situação, quem sabe ainda pior. Afinal, a maioria delas dava à luz em casa. Quantos de nós, descendentes de Luigia Angela Robazza, ou de qualquer outra mulher italiana, terão nascido pelas mãos de anônimas parteiras?


Fazendo buscas pela internet, encontrei uma internauta argentina, Stella Maris Ferronato, que buscava saber a data de nascimento de Maria Dametto, filha de Giosuè e Giovanna. Entrei em contato com Stella Maris, residente em Armstrong, província de Santa Fé – Argentina. Ela identificou-se como bisneta de Maria Dametto, uma das irmãs de Angelo Dametto, casada com Giovanni Ferronato. Pelo correio eletrônico, enviou-me informações e documentos essenciais para o conhecimento de nossas raízes comuns.

O primeiro dos documentos é a ata de falecimento, manuscrita, de Angela Dametto, ocorrido em 17 de setembro de 1871 no comune de Riese Pio X (arredores de Castelfranco Veneto – Província de Treviso). Angela nasceu em Campigo, distrito de Castelfranco, filha de Giosuè Dametto e Giovanna Martini. Faleceu aos 22 anos, solteira. Presume-se que tenha nascido em 1849. Então, era a irmã mais velha de Angelo, nascido em 1853. Na ata, é atribuída a Angela e a seus pais a profissão de “contadina” e “contadini” – agricultora e agricultores. Temos aí, então, um registro oficial da atividade de nossos antepassados vindos do Vêneto.

Ata de falecimento de Angela Dametto - 1871.
Ata de falecimento de Angela Dametto – 1871.

Outro documento é a cópia da certidão de falecimento de Maria Dametto, nascida no dia 6 de julho de 1857, em Campigo, Castelfranco. Casou-se com Giovanni Ferronato. Pergunta de Stella Maris: “necesitaria saber si Maria Dametto y Giovanni Ferronato se casaron en Carlos Barbosa entre 1880 y 1885”.

Na lista do site www.emigrazioneveneta.com, Maria Dametto figura como solteira. É provável que ela e Giovanni tenham vindo de Castelfranco Vêneto ao Brasil no mesmo navio e seu casamento tenha sido em Carlos Barbosa, que naquela época era distrito de Garibaldi. O primeiro filho de Giovanni e Maria, Angelo Ferronato (Angel), nasceu em 1883 em Garibaldi. Os demais filhos – Paula, Antonio Giovanni, Bartolomeu (Bartolome) e Justina (Giustina) – nasceram em Coronel Pilar – RS.

Stella Maria enviou-me o arquivo digital de uma foto da família de Maria e Giovanni Ferronato. Eu já tinha foto igual desde a viagem a Tapejara – RS, em janeiro de 2011. Era uma das muitas fotografias que Ione, neta de Valentim Dametto, colocou à minha disposição para serem digitalizadas. Ione disse-me que era a foto de uma família de parentes do avô dela, mas não sabia dizer quem seriam, nem seus nomes. Eis que agora eu recebia um arquivo pela internet, com a identificação completa de nomes e parentesco.

Família de Giovanni Ferronato e Maria Dametto, irmã de Angelo Dametto.
Família de Giovanni Ferronato e Maria Dametto, irmã de Angelo Dametto.

Antonio Giovanni é o avô de Stella. Nasceu no dia 14 de dezembro de 1891. Conforme a transcrição digital da ata de batismo na Paróquia São Lourenço Mártir, de Coronel Pilar – RS, seus padrinhos foram Domenico Parisotto e [Luigia] Angela Dametto.

A família de Maria Dametto e Giovanni Ferronato se mudou para a Argentina (entre 1898-1904) com outras famílias: Sartori, Rampazzo, Battaglia. Maria e Giovanni Ferronato estabeleceram-se por alguns anos em Serodino – Província de Santa Fé. Depois se transferiram para Camilo Aldao – Província de Cordoba (em 1915 aprox.). Maria Dametto faleceu em 24 de janeiro de 1924, aos 66 anos, em Camilo Aldao – Cordoba.

Stella Maris enviou-me correspondência eletrônica trocada com uma pesquisadora [Vanessa Marensi] que buscava informações sobre “Orsolina Dametto, casada com Domingos Parisotto”. Esta informação, associada com os nomes dos padrinhos de batismo de Antonio Giovanni Ferronato, esclareceu uma questão familiar ligada a meus ancestrais maternos. Sempre ouvira falar que meus pais – Victor Dametto e Carmelinda Parisotto – eram parentes em algum grau, parentesco que agora se define: Domingos Parisotto e Orsolina Dametto [Orsola antes do casamento] são os avós paternos de minha mãe, assim como Angelo (irmão de Orsola/Ursolina) e Luigia Angela são os avós paternos de meu pai. As famílias Dametto e Parisotto eram vizinhas na Linha Estrada Geral (hoje Linha Doze, Carlos Barbosa) desde sua chegada ao Brasil, no mesmo navio.

Orsolina Dametto e Domenico Parisotto.
Orsolina Dametto e Domenico Parisotto.

Voltando à família de Giosuè Dametto e Giovanna Martini, várias vezes ouvira falar que meu bisavô Angelo tinha uma irmã chamada Marina. Mas na lista de imigrantes Dametto não consta o nome de Marina, que em algum momento, ainda desconhecido, também veio morar no Brasil. Na correspondência eletrônica de Vanessa Marensi, encontrei informações importantes:

“Marina Dametto Bertolo, natural da Itália e filha de Giosuè Dametto e Giovanna Martini Dametto (naturais da Itália). Casada com Josué Bertolo. Faleceu em Tapejara – Rio Grande do Sul no dia 19/11/1940 com 91 anos. Deixou os filhos: Pedro, Maria e João (pode ser que tenha mais filhos e não estejam mencionados na certidão de óbito, registrada no cartório da cidade de Tapejara, livro 3, que vai de 1938-1941. No Arquivo Público é o Óbito número 574, página 174, talão 3 (no cartório folha 20ev livro 46).”

Marina Dametto, irmã de Angelo Dametto.
Marina Dametto, irmã de Angelo Dametto.

A certidão de óbito, de inteiro teor, obtida no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais de Tapejara confirma a presença, em terras do Rio Grande do Sul, de Marina Dametto, nascida provavelmente em 1849. Seria a primogênita de Giosuè Dametto e Giovanna Martini? Seria irmã gêmea de Angela, falecida em 1871? Somente uma consulta em arquivos no comune de Castelfranco Veneto irá trazer a resposta.


Fechando essa viagem em círculos, voltemos às nossas raízes. No momento, porém, não tenho o que acrescentar.

Quem tiver documentos familiares importantes que não continue a guardá-los só para si, nem os destrua. Informem da sua existência por meio deste contato: nair.dametto@hotmail.com , enviando também, se possível, uma cópia digitalizada dos mesmos.

Convidamos os descendentes de Gio Batta Dametto, Tommaso Dametto, Francesco Dametto, Antonio Dametto, do casal Isidoro e Maria Dametto – e de outros portadores do sobrenome Dametto vindos ao Brasil – a colaborarem com este site, para juntos construirmos a história das famílias Dametto, das suas condições de vida, dos seus deslocamentos geográficos, sociológicos, de todas as histórias que fazem a nossa história.

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