Imagens do livro Costruzione, linguaggio e lettura dello stemma, a cura di Marcello del Piazzo, págs. 497 e 523.

Brasão de armas

O brasão é um símbolo que vem da Europa medieval. Os brasões eram fornecidos pelos reis a grandes cavaleiros em recompensa por atos de coragem e bravura. Começaram a ser empregados nas armarias no final do século X, tendo sido regularizado o seu uso e aperfeiçoadas suas regras nos três séculos seguintes. Seu apogeu na Idade Média deve-se ao ápice da cavalaria, do romantismo na arte, da exaltação da família e da nobreza.

Com o passar do tempo, o brasão tornou-se um ícone de status e passou a ser conferido a famílias nobres no intuito de identificar o grau social delas. Somente os heróis ou a nobreza possuíam tal ícone e o poderiam transmitir a seus descendentes, estabelecendo-se assim as linhagens.

No início do século XIII, o uso de brasões já se encontrava disseminado pelo continente europeu. O uso dos brasões na França e em boa parte da Europa não se limitou aos cavaleiros ou aos nobres. A utilização de verdadeiros elementos heráldicos encontrava-se disseminada por todos os estratos sociais. Mesmo mulheres e clérigos possuíam e utilizavam emblemas, assim como também o faziam instituições coletivas, como burgos e guildas.

O termo brasão inclui também a descrição do desenho inserido no escudo de armas. Esse desenho obedece às leis da heráldica. As regras precisas da confecção dos brasões e os termos próprios da heráldica foram estabelecidos no fim do século XV.

A heráldica trata de tudo que diz respeito a brasões e títulos de nobreza. O termo vem da raiz da palavra alemã har, de haren, que quer dizer gritar ou chamar. Era justamente esse o papel do Heraldo, figura que na corte tinha o papel de publicar as datas das celebrações de festas e torneios entre as ordens de cavalaria, colocando em lugares bem visíveis os brasões dos cavaleiros que se enfrentariam. Na Idade Média, o papel do Heraldo foi ampliado. Ele era o oficial que nos torneios de cavalaria ficava encarregado da execução e progressão do espetáculo, etiqueta e protocolo, apresentava os cavaleiros identificados pelos escudos e tinha a função de zelar por tudo que dizia respeito a brasões e títulos de nobreza, enfrentando os usurpadores de títulos e armoriais (livros de registro dos títulos e brasões).

A partir do século XVII, com a ascensão da burguesia ao poder e o declínio da aristocracia, o brasão foi perdendo a sua importância para distinguir a nobreza e passou a ser criado com a finalidade de identificar indivíduos, famílias, clãs, corporações, cidades, regiões e nações.

Além dos antigos brasões fornecidos pelos reis, hoje existem os brasões assumidos pela própria entidade que representam, ao invés de terem sido concedidos por uma autoridade superior. Todos têm como elemento fundamental o escudo, que contém o desenho fundamental do brasão.

Elementos constituintes de um brasão.
Elementos constituintes de um brasão.

Elementos de um brasão

O escudo é a parte principal de toda a figura que se vê no brasão como um todo. Foi representado, conforme a época e o local, com diversos formatos, alguns deles bastante fantásticos e rebuscados. Os principais são os seguintes:

  1. Escudo clássico, ogival ou lanceolado;
  2. Escudo francês, quadrado ou samnítico;
  3. Escudo oval;
  4. Lisonja: tem um formato em paralelogramo, com os quatro lados iguais;
  5. Escudo de torneio ou de bandeira: é um quadrilátero como sete partes de largura por oito de altura;
  6. Escudo italiano ou de cabeça de cavalo;
  7. Escudo suíço: de formato semelhante ao do escudo clássico, mas com a parte superior recortada;
  8. Escudo inglês: de formato semelhante ao do escudo francês, mas com uma “orelha” triangular em cada um dos bordos superiores;
  9. Escudo alemão: escudo de ponta arredondada ou ogival, com um recorte redondo num dos cantos superiores;
  10. Escudo polaco/polonês ou russo: escudo de ponta arredondada, com recortes arredondados simétricos nas laterais e, geralmente, também na parte superior;
  11. Escudo português, espanhol, flamengo, ibérico, peninsular ou boleado: escudo com a ponta redonda.

Formatos de escudo.

Formatos de escudo.

Todos os formatos são bem definidos na heráldica. Por exemplo, o escudo clássico, ogival ou lanceolado: tem a ponta inferior em forma de lança ou ogiva. Sendo um dos mais antigos formatos de escudo, no século XX voltou a ser o tipo mais usado na Europa e nos países de influência europeia.

A descrição de um escudo leva em conta que ele é descrito pelo ponto de vista do suposto portador do escudo. Assim, por convenção, a direita (ou destra) do escudo é a esquerda de quem o olha de frente. Igualmente a esquerda (ou sinistra) do escudo é a direita em relação ao observador frontal.

Independentemente de terem sido atribuídos elementos exteriores a um brasão, este pode ser representado apenas pelo seu escudo, ou até pelo desenho incluído no escudo, colocado sobre outro tipo de suporte.

O brasão é composto também de ornamentos exteriores como a coroa, o timbre, o elmo, o paquife (manto, também chamado lambrequim) e suportes/tenentes. Toda a miscelânea de sinais, cores e figuras que compõem o brasão, dão a este a particularidade característica que identificará o seu dono dos demais. Essas particularidades são divididas em formas e nomenclaturas que se diferem de acordo com a nacionalidade e época na história.

Coroa

A coroa [coronel de nobreza] é o principal símbolo de nobreza, de poder e legitimidade. Seu emprego na heráldica segue regras estritas para representar as figuras do rei/imperador, rainha/imperatriz, príncipe herdeiro, conde, visconde e barão. Para cada uma dessas figuras aplica-se a coroa correspondente.

No século XVII, a coroa passou a simbolizar também a nobreza adquirida pelo trabalho das artes e das letras. Posteriormente, foi aceita a prática e uso de coroneis de nobreza para dignificar o trabalho produtivo, desde que fossem desenhados de tal forma que não pudessem ser confundidos com nenhum dos coroneis próprios dos títulos de nobreza.

Elmo

O elmo é a reprodução dos elmos dos cavaleiros medievais. Era uma das partes mais importantes da armadura, uma vez que protegia a cabeça de golpes e pancadas, que frequentemente poderiam ser fatais. Os guerreiros usaram capacetes ou alguma forma de proteção para a cabeça desde a Idade do Bronze. Gregos e romanos fizeram desses capacetes a parte mais importante e vistosa do seu equipamento. No século XII a evolução das artes da guerra e da tecnologia militar levou à necessidade da utilização de elmos fechados, como proteção contra as flechas dos arqueiros, cada vez mais eficazes, e também contra os golpes das espadas e machados.

A difusão do uso de elmos fechados, impedindo o reconhecimento rápido de quem estava dentro da armadura, forçou a utilização de símbolos e cores identificadores nos escudos e, em última análise, levou à criação de um sistema organizado e codificado de emblemas individuais – a simbólica heráldica.

Tipos de elmos.
Tipos de elmos.

Os elmos foram fundamentais nos torneios e justas. A violência do embate entre dois cavaleiros que procuravam derrubar-se mutuamente com as lanças levou ao desenvolvimento dos elmos, os quais se prolongaram até proteger totalmente o pescoço e descendo para os ombros de forma a poderem fixar-se solidamente no tronco da armadura. É esta a origem da forma mais divulgada do elmo heráldico. Quando os torneios deixaram de se disputar com lanças e passaram a consistir apenas num combate com maças de armas, o elmo deixou de precisar ser tão fechado na face e surgiram as viseiras de grades. Os torneios ajudaram a difundir a utilização de figuras sobre os elmos, como forma de facilitar o reconhecimento da identidade do cavaleiro e aumentar a sua visibilidade pelos espectadores. Estas figuras eram, normalmente, uma das peças pintadas no escudo, e originaram os timbres no desenho heráldico.

A função essencial do elmo na heráldica é figurar como ornato exterior do escudo, colocado sobre o seu bordo superior. Quando o elmo tem a viseira levantada, diz-se aberto e é colocado a três quartos; com a viseira descida chama-se cerrado e põe-se de perfil.

O elmo de ouro, com a viseira aberta, deve ser posto de frente e o seu uso restringe-se aos reis, príncipes de sangue real e duques soberanos. Para a nobreza, o elmo deve ser de prata.

Quanto à situação do elmo sobre o escudo é interessante observar que, se o indivíduo é fidalgo há pelo menos quatro gerações, o elmo deve ser representado olhando para a direita e com a viseira levantada (aberta). Para os nobres até três gerações o elmo também deve ser representado olhando para a direita, mas a viseira deve ser representada fechada. Os altos dignatários, como os duques, usam o elmo também em prata e com nove grades. Os elmos dos marqueses são muito semelhantes aos dos duques, exceto pelo número de grades, totalizando sete. O elmo de bronze, com viseira aberta, distingue os cavaleiros. O elmo voltado para a esquerda indica normalmente bastardia, mas é de uso raríssimo. Igualmente rara hoje em dia, mas possível, é a representação do elmo de perfil. O que nunca deve acontecer, em termos de desenho heráldico, é o elmo ficar suspenso no ar, “flutuando” sobre o escudo.

Representação de um elmo de rei ou imperador.
Representação de um elmo de rei ou imperador.
Grito de guerra

Grito de guerra ou grito de armas é uma palavra ou frase curta (interjeição) de incentivo ao combate ou à ação. Normalmente, é colocado num listel sobre o conjunto das armas.

Timbre

O timbre representa os emblemas que os cavaleiros colocavam no topo dos seus elmos, para melhor serem identificados nos torneios. É colocado sobre o virol e, ao contrário das figuras inseridas no escudo, pode ser figurado de forma naturalista. Como distinção específica, o timbre só interessa para o escudo de certa fase da história da heráldica. Como elemento simbólico muito expressivo e ornamental o timbre parece susceptível de ser assumido em complemento do escudo.

Virol

O virol é a reprodução da fita que amarrava o timbre ao elmo. Representa-se com duas cordas entrelaçadas, uma da cor do metal principal do escudo e a outra da cor do esmalte principal.

Paquife

O paquife (lambrequim) é a reprodução do tecido que alguns cavaleiros colocavam sobre os elmos, para se protegerem do calor e do frio. É, normalmente, representado como uma folhagem ornamental em duas cores: uma a do metal principal do escudo e, a outra, a do esmalte principal. Pode simbolizar as cores da família.

Suportes / tenentes

Suportes e tenentes são figuras que suportam o escudo. São chamados ‘tenentes’ se representam seres humanos e ‘suportes’, nos restantes casos. Normalmente são representados aos pares, um de cada lado do escudo. Ocasionalmente pode ser representado apenas um, atrás do escudo.

Outros elementos exteriores são as insígnias (representam o cargo que uma pessoa representada pelo brasão detém), os troféus (reprodução de objetos, geralmente armas e bandeiras, para significar feitos militares), condecorações (reprodução das insígnias das condecorações que a entidade representada detém), divisa (lema da entidade representada).

Metais e esmaltes

O elemento essencial dentro do escudo é a cor. Podem existir escudos sem figuras heráldicas, mas jamais um escudo desprovido de cor. A importância é tanta que as cores ganharam hierarquia própria dentro da heráldica. São divididas em três categorias: os metais (ouro e prata), os esmaltes (vermelho, azul, verde, púrpura, preto) e os forros (arminhos e veiros). Os forros tentam reproduzir o efeito do forro de peles colocado às vezes sobre os escudos. Outras cores foram sendo incorporadas a esse repertório, como a carnação, usada para colorir as partes do corpo humano que apareciam nos brasões. Porém, sua utilização não foi tão ampla quanto a das demais cores. A heráldica tem o uso de metais (que geralmente são esmaltes mais claros) e esmaltes (cor do fundo) como padrão, atribuindo-lhes características específicas.

Os metais: ouro – representado por sua cor natural (amarelo); prata – representada por sua cor natural (branco).

Os esmaltes: negro (“Sable”), vermelho (“Gules”), azul (“Blue” ou “Azure”), verde (Sinople”), púrpura (“purpure”),  vinho (vermelho escuro), escarlate (“Sanguine”), marron (“Tan” ou “Marroon”) – representados por campos de sua respectiva cor; Laranja (“Orange”) – cor de rara utilização na heráldica latina, sendo mais utilizada nos países de origem Anglo-Saxônica. Quando utilizadas em Armorial (livro onde são registrados os brasões), as cores recebem diferenciações tipográficas, por campos passados de filetes postos em horizontal, em vertical, em banda, em contrabanda, entrecortados por pontos, etc.

Metais e esmaltes utilizados na Heráldica.
Metais e esmaltes utilizados na Heráldica.
Significado das cores
Significado das cores.
Figuras heráldicas

As figuras heráldicas por excelência, na Idade Média, foram os animais, reais ou imaginários. Os principais foram o leão, o leopardo (uma variação do leão), a águia e o dragão, que ocupavam mais da metade dos brasões com animais.

Uma das figuras mais empregadas na heráldica, o leão é encontrado nos brasões de inúmeras famílias e nas armas de diversos países. No campo do brasão podem aparecer um ou mais leões, sendo que o número total não pode ser superior a dezesseis.

O leão simboliza força, grandeza, coragem, bravura, espírito guerreiro, vigilância, domínio, soberania, majestade e nobreza de condição. Também caracteriza domínio e proteção, condições que deve ter um superior sobre aqueles a quem domina. Sua posição principal é a rampante, mas pode ser encontrado como, rampante resguardante, passante (chamado aleopardado), covarde, dormente, combatente, entre outras. O leão está sempre de perfil.

Algumas posições usuais na representação heráldica do leão.
Algumas posições usuais na representação heráldica do leão.

Às vezes o leão aparece composto com outros animais, como a águia. Neste caso, passa a chamar-se grifo. Esta peça, com a parte superior de águia e corpo de leão, é encontrada nos brasões de muitas famílias.

Brasão de armas destacando-se a figura do grifo.
A figura do grifo.

A presença do leão no brasão de armas insinua força, grandeza, coragem, nobreza de condição. Também caracteriza domínio e proteção, condições que deve ter um superior sobre aqueles a quem domina.

O leopardo apresenta-se nos brasões da maneira chamada “passante”, com a pata dianteira erguida. Representa o cavaleiro valoroso e esforçado que tenha executado alguma ousada tarefa, tendo sucesso mais por sua astúcia que por sua força. Em heráldica, leopardo não é o nome de uma espécie de felino, mas de uma posição do leão. Todo leão que se apresenta guardante (com a cabeça virada para o observador) é chamado de leopardo.

A pantera também é representada passante, o tigre correndo, o urso pode ser rampante (em posição de combate), passante ou levantado. Se estiver rampante é chamado de leopardo aleonado, pois essa é a posição natural do leão.

O lobo é representado andante, com a pata dianteira levantada.

A águia, a primeira das aves, simboliza o poder, a vitória, a velocidade, a prosperidade, o domínio e a benignidade.

A coruja representa sabedoria, status e inteligência. Algumas culturas europeias, como a dos celtas e seus descendentes, também encaravam a coruja como um símbolo de misticismo e mistério porque elas eram vistas como observadoras do mundo subterrâneo.

O cavalo é representado marchando, o touro e a vaca parados ou andantes e o javali andante e de perfil. O coelho e a lebre podem aparecer passantes, correndo, deitados, e como presas.

Além de animais, outras figuras apareciam em escudos, como vegetais, elementos astrológicos e utensílios do cotidiano: chaves, poços, martelos, machados, rodas, correntes, etc.

Livro consultado:

Princípios de heráldica, de Vera Lúcia Brottel Tostes. Museu Imperial / Fundação Mudes, 1983.

Sites consultados:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasão

História:

http://www.abcdesign.com.br/por-assunto/historia/heraldica-simbolos-nobres-significados-reais/

Elmos:

http://www.heraldica.net.br/3_2_elmo.htm

Regras da heráldica:

http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/suplementos/ler/as-regras-da-heraldica-1.562805

O seu nome e a Heráldica

http://www.heraldica.com.br/saiba_mais/saiba_mais.php

http://www.nomesebrasoes.com.br/heraldica.php

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