A política de imigração foi planejada não apenas com o propósito de colonizar territórios pouco ocupados ou de suprir a mão de obra necessária após a abolição da escravatura, mas também para “branquear” a população brasileira.
Depois da Independência, entre 1823 e 1828, o Governo Imperial estimulou a imigração alemã, tanto para a formação de núcleos coloniais, como para a organização de batalhões de estrangeiros no exército em formação – uma real necessidade diante do fato de que os batalhões existentes eram formados por soldados portugueses fiéis a Portugal e pouco predispostos a lutar pelo Brasil independente.
Cada família de imigrantes alemães recebeu um lote gratuito de 77 hectares, além de assistência através do fornecimento de alimentos, sementes, ferramentas e o mínimo indispensável nos primeiros tempos.
Entre 1848 e 1874 a colonização estrangeira no Rio Grande do Sul esteve sob a direção do Governo Provincial. Conforme a Lei Geral n.o 514, de 28 de outubro de 1848, a Província do Rio Grande do Sul recebeu do Império 36 léguas quadradas de terras devolutas para o fim específico da colonização. Nesse período ingressaram na Província 22.407 imigrantes, sendo a grande maioria cidadãos e súditos dos estados alemães. A Colônia de São Leopoldo transformou-se em importante polo irradiador de colonização nos vales dos rios Sinos, Caí e Taquari, em direção à Serra Geral.
Novos imigrantes e os descendentes das primeiras famílias de colonos, em razão da pouca possibilidade de parcelamentos de seus lotes coloniais, dirigiram-se a regiões mais distantes, onde ainda havia terras públicas. Assim surgiram as colônias de Santa Cruz e Nova Petrópolis.
Após a bem sucedida experiência de colonização alemã no Rio Grande do Sul, fundada em 1824, o Governo Imperial brasileiro iniciou um processo semelhante com imigrantes de origem italiana, estimulando uma política do Estado voltada às experiências de colonização para a pequena propriedade no Brasil meridional. Neste contexto, o imigrante italiano era considerado um dos melhores, pois além de ser branco, também era católico.
O início do processo de emigração transoceânica foi estimulado por um grupo de armadores genoveses que, junto com empresários e agentes governamentais de países americanos, viram esta nova possibilidade de ganhos. Por meio de mentiras e retratos ilusórios, enganavam os camponeses.
Além dos Agentes da Imigração atuando na Europa, a estrutura da imigração, no Sul do Brasil, era formada por: um Agente Intérprete (diretor da colonização na Província, responsável pela repartição da colonização, subordinado ao presidente), sediado em Porto Alegre, a ele subordinado o Agente Intérprete de Rio Grande (encarregado da acomodação, registro, auxílios e encaminhamentos); os diretores das colônias, encarregados da distribuição de lotes, auxílios e registros das dívidas; e mais dois funcionários encarregados da medição de lotes em todas as colônias.
Foram feitas outras tentativas para incrementar o ingresso de novos imigrantes alemães, mas houve resistência da imprensa e dos estados alemães em deixar fluir a corrente emigratória para o Brasil, devido aos relatos de conflitos e dificuldades sofridas pelos colonos, o que levou ao declínio no ingresso de novos colonos alemães. Em contrapartida, a política do Governo Imperial dava impulso à colonização italiana, com a disponibilização de terras devolutas para esse fim.
O Governo Provincial do Rio Grande do Sul – aproveitando a doação de terras, de acordo com a lei imperial de 1848 – iniciou uma política imigratória, sendo a primeira província a fundar colônias com fundos próprios, podendo assim administrá-los por conta própria.
A Lei provincial n.o 229, de 4 de dezembro de 1851 – que permitia o fornecimento de ferramentas agrícolas e sementes, indenização dos custos da viagem e ajuda em dinheiro durante o período de instalação, além da doação de um lote de 48 hectares a cada família – não foi posta em prática para os imigrantes italianos em virtude da Lei de Terras (do governo imperial), como ficou conhecida a Lei n.º 601, de 18 de setembro de 1850, que pôs fim à distribuição gratuita de lotes para os imigrantes.
A Lei provincial n.o 304, de 1854, atualizou a questão da venda das terras e colocou as bases para a colonização provincial até o fim do Império. As terras passaram a ser vendidas para os colonos dentro de um prazo de cinco anos, podendo ser pagas em três parcelas, sem juros, nos finais do terceiro, quarto e quinto ano. A dívida colonial (preço do lote mais adiantamentos) era firmada na chegada de cada família de colonos. De forma gratuita, a Lei 304 oferecia transporte, hospedagem e manutenção dos colonos do porto do Rio Grande até o lote colonial.
Em 1867 saiu o “Regulamento para as Colônias do Estado”, estabelecido pelo Decreto imperial n.o 3.784, de 19 de janeiro. Entre seus dispositivos, destinava a cada família um lote de acordo com seus recursos e força de trabalho disponível; os lotes deveriam ser pagos em cinco vezes, ao longo de dez anos. Naquele ano o Rio Grande do Sul recebeu a primeira leva de imigrantes italianos, em substituição aos imigrantes alemães que ali se estabeleceram em colônias a partir de 1824, mas que a cada ano vinham em menor quantidade. O negociante Caetano José de Andrade Pinto divulgava o Regulamento de 1867 pela Europa como meio de atrair mais emigrantes a seus navios.
Não se fez um planejamento, de modo a oferecer ao colono condições imediatas de vida. O objetivo era povoar determinadas províncias, antecipar-se à libertação dos escravos e prover a lavoura. Os núcleos coloniais não estavam aparelhados ainda para serem habitados quando o Departamento de Povoamento do Solo e Colonização começou a receber as primeiras famílias.
O Governo Provincial abandonou a colonização e a imigração à sua própria sorte – como resultado dos limites orçamentários impostos pela Assembleia Provincial. O Governo Imperial assume os encargos da imigração e colonização a partir de 1875. O objetivo da política oficial de colonização era a criação de um fluxo imigratório espontâneo.
Para assentar os imigrantes da Itália, o governo do Brasil destinou mais 32 léguas de “terras devolutas”, agora já não mais as áreas planas e férteis dos vales dos rios Caí e Sinos, para onde foram os alemães. As áreas que restavam para a colonização, inclusive por pressão dos grandes proprietários, ficavam na acidentada encosta da Serra, região ainda selvagem e de difícil acesso.
Colônias imperiais no Rio Grande do Sul
Nos primeiros anos da década de 1870 foram criados três novos núcleos destinados ao assentamento de quarenta mil colonos imigrantes italianos, num prazo de dez anos, para ali se estabelecerem e aumentarem a produção agrícola da região:
- Colônia Fundos de Nova Palmira (depois rebatizada de Colônia Caxias), que deu origem a Caxias do Sul, Flores da Cunha, Farroupilha e São Marcos;
- Colônia Dona Isabel, que formou Bento Gonçalves;
- Colônia Conde d’Eu, que originou Garibaldi e Carlos Barbosa.
As primeiras famílias de imigrantes italianos vindos das regiões do Piemonte e Lombardia começam a chegar à província do Rio Grande do Sul. Entre os anos de 1875 e 1886, o principal contingente emigratório italiano tem origem entre pequenos proprietários e meeiros das regiões altas do Vêneto.
Os imigrantes aportavam ao Brasil pelos portos do Rio de Janeiro e de Santos, e no Sul através do porto de Rio Grande. Depois, com navios menores, via Lagoa dos Patos, chegavam a Porto Alegre. Da capital da Província, em barcos ainda menores, seguiam para os portos fluviais de Montenegro, aqueles que se destinavam às colônias de Dona Isabel (Bento Gonçalves) e Conde D’Eu (Garibaldi), e aqueles enviados à Colônia Caxias desembarcavam no porto de São Sebastião do Caí.
As terras disponíveis situavam-se nas regiões de mais difícil acesso, na Serra Geral. Os imigrantes enfrentavam permanentes problemas de transporte, devido às péssimas condições das estradas e picadas que ligavam aos portos fluviais de Montenegro e São Sebastião do Caí. Quanto mais distantes dos rios da bacia do Jacuí, maiores eram os problemas de transporte, feito em carretas e tropas de mulas. Os próprios colonos abriam os caminhos e picadas para sua circulação.
As colônias tinham duas formas de comunicação entre a região colonial e a capital da Província. A primeira era a picada mais tarde denominada Buarque de Macedo, que em seis dias em lombo de muares e depois em carretas, da Colônia Dona Isabel chegava-se a Montenegro, porto fluvial da Colônia alemã no rio Caí, com transporte rápido de um dia até Porto Alegre. Outra picada saía da Colônia de Caxias e dirigia-se a São Sebastião do Caí, levando o mesmo tempo de viagem.
As picadas foram ampliadas em largura, para as carretas poderem transitar. Mas seu estado geral era muito precário. Nos dias de chuva, tornavam-se impossíveis de trânsito devido ao imenso atoleiro formado. A difícil situação das estradas, com o consequente aumento dos custos de transporte, fazia rebaixar o preço dos produtos agrícolas transportados: trigo, feijão, carne de porco, banha e outras mercadorias. Pesavam também sobre o comércio dos colonos as altas taxas de lucro auferidas pelos comerciantes da Colônia italiana ligados às casas de comércio de imigrantes alemães sediados em Porto Alegre. Dentro dessas dificuldades, os colonos ficavam restritos ao cultivo de subsistência.
Em 1877 foi fundada a Colônia Silveira Martins, também conhecida como Quarta Colônia, o primeiro reduto de italianos fora da Serra Gaúcha, que deu origem aos municípios de Silveira Martins, Santa Maria, Ivorá, Nova Palma, Faxinal do Soturno, Dona Francisca e São João do Polesine. Neste último fica a localidade de Vale Vêneto, nome dado em homenagem à região italiana do Vêneto.
Durante a década de 1870, na medida em que crescia a imigração para as colônias imperiais, cresciam também as dívidas dos colonos com o Tesouro Provincial. O Governo Provincial tornou-se tolerante com relação às dívidas, mas isto não resolvia o problema dos colonos que desejassem vender ou hipotecar seus lotes. Quem não tivesse saldado suas dívidas com a Província, não recebia o título definitivo de propriedade, ficando legalmente impedido de alienar seu imóvel.
Em outubro de 1877 inicia-se uma reação por parte do Ministério da Agricultura com o objetivo de diminuir os gastos com a imigração e colonização, que estavam atingindo cifras imprevistas, e de suspender os subsídios aos colonos por conta das secas.
Em 5 de janeiro de 1878, os liberais assumem o poder através do Gabinete Sinimbu. Persistem os problemas nas colônias e os conflitos entre os imigrantes e as forças de linha. Em abril de 1878, o Conselho de Estado aprovou créditos extraordinários para transporte e assentamento de imigrantes em núcleos oficiais de pequenos proprietários. Durante o ano de 1878, a política praticada por Sinimbu priorizou o assentamento de 32.096 imigrantes, que haviam chegado de 1876 a 1878: 9.705 em colônias do Rio Grande do Sul; 4.058 em Santa Catarina; 7.470 no Paraná; 4.053 no Espírito Santo.
Entre 1878 e 1881, diante de dificuldades orçamentárias, o Governo Imperial reduziu as despesas com imigração e colonização.
Imigrantes espontâneos
O objetivo da política oficial era a criação de um fluxo imigratório espontâneo para consolidar a agricultura de pequenas propriedades no Sul do Brasil. Os imigrantes que chegaram ao Sul do Brasil a partir de novembro de 1878 eram espontâneos, pagavam por suas passagens da Itália ao Brasil e instalavam-se com recursos próprios.
Constata-se uma radical diminuição no ingresso de colonos para o Rio Grande do Sul: 186 imigrantes em 1878, 300 em 1879 e 219 em 1880. Esses colonos possuíam melhores condições para se instalar. Foram encaminhados aos trabalhos agrícolas, com restrições quanto ao trabalho assalariado em serviços públicos. As unidades familiares teriam que procurar seu sustento principal nos lotes coloniais, ficando o trabalho assalariado como uma fonte suplementar de renda para o período anterior à primeira safra.
Em 1879 o Governo Imperial inicia o processo de emancipação das três primeiras colônias imperiais – criando os municípios de Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi – e suspende os contratos para a vinda de novos imigrantes.
A partir de 1882 até a proclamação da República, ingressaram nas colônias imperiais do Rio Grande do Sul aproximadamente 40.000 imigrantes, que tiveram acesso aos lotes coloniais com os auxílios e adiantamentos estabelecidos pelo Regulamento de 1867 e mantidos pela luta dos colonos na década de 1870.
Novas colônias
A partir de 1884, uma vez totalmente ocupados os quatro núcleos pioneiros, foram criadas outras colônias do outro lado do rio das Antas:
- Colônia Antonio Prado, que deu origem do atual município de mesmo nome;
- Colônia Alfredo Chaves, que deu origem a Veranópolis, Nova Prata, Nova Bassano e Cotiporã;
- Colônia Guaporé, que deu origem aos municípios de Guaporé, Muçum, Serafina Correa e Casca;
- Colônia Encantado, que originou os municípios de Encantado, Nova Brescia e Coqueiro Baixo.
Não havendo mais terras devolutas nas colônias já estabelecidas, aos poucos foram surgindo outros núcleos coloniais, em cidades como: Jaguari, Cachoeira do Sul, Lagoa Vermelha, Tapejara, Getúlio Vargas, Erechim, Severiano de Almeida, Sananduva, Paraí, Nova Araçá, Ciríaco, Davi Canabarro, Marau, Anta Gorda, Ilópolis, Putinga, Arvorezinha, Ipê, Soledade.
Tudo foi muito difícil. Os imigrantes alemães que chegaram em 1824 ganharam lotes de até 77 hectares. Quando os italianos chegaram, 50 anos depois, somente receberam 30 hectares de terra e tiveram que pagar por eles, coisa que não aconteceu com outras imigrações naquela época.
Na Europa, os principais representantes das classes proprietárias faziam oposição à emigração, em razão da tendência de insubordinação dos que ficavam. Medidas restritivas contra a atuação dos Agentes – como o fechamento dos portos italianos à emigração e a limitação na emissão de passaportes e documentos locais de “nada consta” – eram ineficazes, porque muitos italianos declaravam que iam fazer trabalho temporário em países vizinhos e passaram a emigrar para o Brasil a partir dos portos franceses de Havre e Marselha e pelo porto alemão de Hamburgo.
A atração de uma significativa corrente imigratória não ocorreu de forma espontânea, por causa da imagem desfavorável do Brasil frente aos governos e à imprensa europeia, devido principalmente à atuação desonesta de Agentes na Europa. Os agentes prometiam viagens gratuitas e quando os imigrantes chegavam aos portos de embarque ficavam sabendo que deveriam pagar pelas passagens. O desgaste da imagem brasileira pode ser atribuído também a problemas ocorridos com colonos em regime de parceira em São Paulo.
Dificuldades como uma prevenção generalizada contra o Brasil por parte da Europa, que via o Brasil como um país onde os imigrantes sofriam privações, bem como o custo do transporte dos imigrantes até as colônias, fizeram com que apenas um número menor de colonos italianos fossem realmente assentados.
Relatos e memórias dos primeiros colonos que foram publicados, sobre fatos heroicos e dificuldades incríveis que os imigrantes passaram nos primeiros tempos, realçam o “heroísmo” e dramatizam as dificuldades dos momentos iniciais da viagem até o estabelecimento dos colonos.
Imigrantes italianos em São Paulo
A partir de 1880, a maioria dos italianos que emigraram para o Brasil fixou-se na província de São Paulo, onde foram a principal força de trabalho assalariado nas fazendas de café. Provinham, sobretudo, das províncias centrais e meridionais da Itália.
Na segunda metade do século XIX o Brasil passou por um período de fermentação das ideias abolicionistas. Novas leis, como a Lei do Ventre Livre (1871) e a Lei dos Sexagenários (1885), anunciavam o fim próximo da escravidão. Ao mesmo tempo, a população escrava envelhecera durante a segunda metade do século XIX sem que a reprodução natural da população fosse suficiente para suprir a necessidade de mão de obra nas lavouras ou para colonizar as terras ainda inexploradas no Sul do Brasil.
Para a grande lavoura cafeeira paulista não interessava a vinda de espontâneos, uma vez que estes pagavam por suas passagens e vinham independentes de subsídios e auxílios. Os próprios colonos deviam arcar com as despesas de suas passagens da Europa até o porto de destino. Os braccianti, por sofrerem mais seriamente os efeitos da crise econômica, não tinham condições de juntar poupanças para pagar a viagem transoceânica.
Na década de 1880, o Governo da Província de São Paulo passou a pagar pelas passagens de imigrantes subsidiados, com o objetivo de obter mão de obra para a grande lavoura cafeeira paulista, à qual não interessava a vinda de espontâneos, uma vez que estes pagavam por suas passagens e vinham independentes de subsídios e auxílios. Por isso, a partir de 1880, a grande maioria dos italianos que emigraram para o Brasil fixou-se no estado de São Paulo.
Mudanças socioeconômicas e políticas ocorridas a partir do Segundo Reinado, a extinção do tráfico negreiro e o movimento abolicionista enfraqueceram a aristocracia agrária, dona de escravos e das velhas lavouras, que dominara até então a cafeicultura no vale do Paraíba do Sul e os latifúndios açucareiros do Nordeste.
Durante o Segundo Reinado a economia brasileira centrou-se no café, maior riqueza nacional e principal produto de exportação. Desde o início do século XIX o café difundiu-se pelo vale do Paraíba do Sul, de onde atingiria, na década de 1850, o nordeste e o oeste paulistas. A extraordinária aceitação do produto no mercado mundial agigantou sua produção e, com ela, a ideia da grande imigração, na medida em que os senhores compreenderam que o trabalho escravo limitava a possibilidade de acumulação capitalista.
A fazenda de café foi, no Brasil, o espaço pioneiro onde se realizou a experiência de substituição do trabalho escravo pela força de trabalho livre. O poder econômico foi passado às mãos da burguesia cafeeira do oeste paulista, responsável pelo desenvolvimento das novas relações capitalistas no Brasil, mais interessada no trabalho assalariado e na imigração estrangeira. Foi essa burguesia cafeeira que, nas últimas décadas do século XIX, orientou a política imigratória brasileira, patrocinando a entrada no Brasil de milhares de estrangeiros, notadamente italianos.
A vida foi particularmente difícil para os italianos que se fixaram nas fazendas de café, onde a discriminação social forçava a maioria dos imigrantes a viverem nas fazendas, sem assistência, submetidos a escravizantes contratos e, muitas vezes, maltratados pelos próprios fazendeiros. Como os antigos escravos, os colonos não podiam sair dos domínios do senhor. Não podiam visitar parentes ou amigos, moradores de outras fazendas, eram proibidos de ir à igreja, mesmo em dia de festas, para não entrar em contato com seus conacionais. Essa discriminação social pressionava-os à assimilação cultural. Pobres e desassistidos, sem consciência de seus direitos, terminavam por adaptar-se à sua sorte.
Contrariamente ao que aconteceu em São Paulo, nos três estados do Sul – Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná – onde o imigrante italiano foi pioneiro na colonização, evidenciam-se até hoje as marcas de sua presença: o uso de dialetos, o estilo das habitações, o sistema familiar de exploração da terra, que incluiu a diversificação das culturas, o impulso à industrialização.
A partir da década de 1880, verifica-se a presença de imigrantes italianos em atividades urbanas e industriais, dando impulso ao setor de mineração e levando ao aparecimento de pequenas fábricas de artefatos de ferro, oficinas de móveis e preparo de madeira.
A vinda desse grande contingente imigratório não resultou apenas de ações governamentais ou da iniciativa da Sociedade Promotora da Imigração, mas, também, da formação de colônias onde os imigrantes compraram seus lotes de terra para cultivo nas três províncias do Sul e no Espírito Santo. Estes núcleos coloniais, além de promoverem a ocupação territorial e o desenvolvimento das lavouras de gêneros alimentícios, converteram-se em centros de atração de imigrantes.
Migrações internas
Com a Revolução Federalista em 1893 e a construção da estrada de ferro iniciou-se um pequeno povoado chamado de Núcleo Alto Rio do Peixe, microrregião geográfica de Passo Fundo. O governo legalizou uma área de 1.714.057 metros quadrados, entre os rios Ligeiro e Carreteiro, concedendo-a Antônio dos Santos Bonetes. Este vendeu três glebas de terra a Manoel Amâncio Teixeira e Julião Luiz Almeida. Os dois compradores formularam um plano de loteamento, que em três etapas, 1915, 1917 e 1920, compunha o núcleo chamado Sede Teixeira (Tapejara a partir de 1940). Nas primeiras décadas do século XX, chegaram à região colonos de origem italiana e alemã vindos dos núcleos de colonização primitiva. Na década de 20, ali se estabelecem também as famílias de Cecília Dametto Baseggio, Vitorio Dametto, Valentim Dametto e Joana Dametto Zanatta e o sobrinho deles, Olívio Dametto, filho de Giosuè Dametto.
As migrações de membros da família Dametto, de Carlos Barbosa, aconteceram desde a primeira década do século XX. Em 1900, os recém casados Ferdinando Dametto e Antonia Zucatti estabeleceram-se na Estação Barão (hoje município de Barão) – então quarto distrito do município de São João de Montenegro. E em 1909 o casal José e Maria Simon Dametto e o primogênito Roberto mudaram-se para Linha Quarta, Anta Gorda.
Uma terceira onda migratória aconteceu na metade do século XX, quando o Oeste Paranaense começa a ser colonizado por descendentes de imigrantes europeus vindos dos estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em 1949 foi criada a Industrial e Agrícola Bento Gonçalves, com sede em Foz do Iguaçu, que iniciou a colonização de área desmembrada da Gleba Iguaçu, onde seria fundada a cidade de Medianeira – Paraná. Em 1952 começa a propaganda da venda de terras no oeste do Paraná pelo Correio Riograndense, de Caxias do Sul, jornal de grande penetração nas áreas de colonização italiana. Em 1954 o agente da Colonizadora Industrial e Agrícola Bento Gonçalves responsável pelos municípios e adjacências de Guaporé e Encantado passou por Anta Gorda, fazendo contatos para a divulgação e venda de terras em Medianeira. Membros da família Dametto compram colônias e lotes urbanos. Em 1962 fazem mudança para Medianeira, em janeiro, o casal Euclides Mayer e Rosa Dametto, filha de Roberto Dametto, e em outubro a família de Victor Dametto. São os primeiros Damettos a migrar de Anta Gorda para o Oeste Paranaense. Para algumas cidades do Oeste e do Sudoeste Paranaense migraram descendentes de Magdalena Dametto Steffani e Joanna Dametto Zanatta.
Ainda na década de 1960, outros Damettos atravessaram a fronteira e chegaram ao Paraguai, atraídos pela propaganda de colonização de terras naquele país. Em 1962, José Dametto e seu cunhado Silvestre Gasparin compraram duas colônias em Hernandaria, no Departamento do Alto Paraná, área fronteiriça com o Brasil. Aquela região se tornaria a maior produtora de soja no Paraguai. Alguns anos depois os filhos de José Dametto estabeleceram-se em fazendas nos dois lados da fronteira, em Pedro Juan Caballero/Ponta Porã, Capitán Bado/Coronel Sapucaia, Aral Moreira e Dourados – Mato Grosso do Sul.
Um verbo e um substantivo resumiriam nossa trajetória – migrar, migrantes. Foi o que fizeram e eram nossos ancestrais, desde as mais longínquas migrações durante o Império Romano. É o que fazemos e somos até hoje, quando cada um de nós parte da casa dos pais em busca de um futuro melhor.